A violência praticada na internet já é assunto conhecido há alguns anos. Mas a pandemia agravou, também, esse tipo de crime. Afinal, com o aumento do uso das telas, maior a incidência de casos de cyberbullying, stalking, assédio e vazamento de nudes, entre outros.
Diante disso, e sempre atento às formas de investigar e diminuir as violências contra mulheres e meninas, em 2019, o Instituto Avon se uniu à Decode, empresa especialista em pesquisa digital, para realizar um levantamento inédito sobre as violências praticadas na internet. "Em um mundo cada vez mais digital, que vem redefinindo as relações sociais, é fundamental que se debata, com urgência, a banalização da violação de direitos e a violência. Esse é um dos propósitos desta pesquisa inédita, que traz dados importantes para propor a reflexão e as mudanças necessárias para coibir a violência virtual. Na era da informação, façamos dela nossa principal ferramenta para a transformação. Seguimos juntas e juntos, em todas as esferas, por todas as mulheres", afirmou Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon.
Entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2021, foram analisados mais de 286 mil vídeos, 164 mil notícias e 154 mil menções virtuais - posts, textos e artigos - compartilhados nas plataformas digitais. "A pesquisa traz dados expressivos, demonstrando que a internet é um lugar repleto de possibilidades de violências contra meninas e mulheres, que assumem formas heterogêneas, multifacetadas e complexas. E, ao contrário do que muita gente pensa, as violações que acontecem no espaço digital não são menos graves ou relevantes do que aquelas que acontecem em interações face a face", conclui Beatriz Accioly, coordenadora da causa de Violências do Instituto Avon.
A Pesquisa "Muito além do Cyberbullying: a violência real do mundo virtual" foi apresentada ao público no
7º Fórum Fale Sem Medo, que aconteceu no último dia 24 de novembro, em São Paulo. Durante o evento, a norte-americana Erica Olsen-Shaver, diretora do Projeto de Safety Net na NNEDV (National Network to End Domestic Violence), fez uma palestra abordando como a tecnologia pode ser usada a favor da segurança da mulher. "Ela pode criar espaços e facilitar oportunidades para sobreviventes ao oferecer recursos, apoio e cura, além de influenciar as normas sobre privacidade, igualdade e respeito".
Falamos mais sobre isso com Erica Olsen-Shaver - confira, a seguir, sua entrevista na íntegra.
- Como a violência virtual se diferencia daquela praticada no mundo real?
Na verdade, não é nada diferente. Indivíduos abusivos usam muitas das mesmas táticas, mesmo que as ferramentas sejam diferentes. Monitorar a localização de uma pessoa ou sua atividade diária, isolar a pessoa da família e dos amigos, fazer ameaças, tentar arruinar reputações, falsificação. Esses são todos comportamentos abusivos que foram praticados muito antes que muitas das tecnologias atuais existissem. Normalmente não é diferente para a vítima. O medo, o isolamento e o trauma podem ser muito parecidos. Apenas se diferencia já que pode ser praticadas online em vez de um recado deixado no para-brisa, ou a localização pode ser vista remotamente em vez da perseguição presencial. Algumas tecnologias podem certamente facilitar que um abusador abuse e dificultar que uma vítima encontre segurança.
- Como a tecnologia e as conexões digitais podem nos ajudar a enfrentar a violência real?
A tecnologia pode ser usada para identificar e provar o abuso, fazendo com que os abusadores sejam responsabilizados pelas suas ações. Também pode ser usada para fazer ecoar a voz das vítimas, aumentando a conscientização e diminuindo o isolamento de outras, uma vez que elas se enxergam nas histórias. A tecnologia também pode ser criada para aumentar a segurança e o bem-estar dentro das comunidades e das vítimas.
- Legislações e políticas públicas mais estruturadas são o caminho mais acertado para diminuir os casos de violência virtuais?
Acredito que não. Muitos dos abusos que vemos eram crimes por muito tempo porque muitas leis já focam no comportamento e não na ferramenta específica com a qual o comportamento é praticado. Precisamos focar na intervenção primária, que deve incluir como a gente influencia as regras com as quais nos tratamos virtualmente, permitir privacidade pessoal e respeitar o consentimento. Esse trabalho deve ter muito mais impacto.
Quer saber mais sobre a pesquisa? Baixe o e-book da pesquisa aqui e o infográfico
aqui.